Março de 1980. Estou na casa da vovó Maria. Papai, mamãe e eu moramos em Quirinópolis, que fica lá em Goiás. Como é muito longe, não é sempre que a gente pode vir visitá-la, por isso estou muito feliz por estar aqui. Ela gosta muito de mim. Faz bolachinhas e “crustis” para eu comer e fica o tempo inteiro comigo. O vovô Mila e a tia Ângela também me adoram. Acho o vovô Mila muito engraçado. Parece que ele gosta de me ver dando risada, pois faz de tudo pra me fazer rir. Mas eu sinto falta de alguém da minha idade pra brincar. O Marquinho, que mora aqui na casa lado, é o único amiguinho que eu tenho, mas não é sempre que ele vem brincar comigo, pois eu tenho só 4 anos e ele já tem 7... Apesar de me sentir muito amado pela vovó, vovô e titia, eu estou sentindo muita saudade da mamãe. Nem sei quantos dias faz que eu não a vejo, mas pra mim parece que faz muito tempo. A vovó disse que ela está no hospital, internada. Eu perguntei pra vovó se ela estava doente, pois quando ela foi para lá, estava com uma barrigona enorme. A vovó disse que a barriga dela está grande porque minha irmãzinha está lá dentro. Oba! Vou ter uma irmãzinha pra brincar! Já é tarde. É hora de tomar banho. A vovó pega a toalha e minhas roupinhas e me leva para o banheiro. Ela me desveste, liga o chuveiro e começa a me ensaboar. Eu começo a rir, porque aquela espuma faz cócegas quando a vovó começa a passar a buchinha. A vovó parece mais feliz do que ontem. “Filho, a mamãe vai sair do hospital”. Ah, que bom! Eu já estava começando a ficar preocupado com ela... “Sua irmãzinha nasceu!” Olho pra vovó. Ela está rindo muito, parece muito feliz. Lembro então que a mamãe e o papai não estão estão lá no hospital, com a minha irmãzinha que acabou de nascer. Por que eles estão lá com ela e não estão comigo? Será que eles preferem ela a mim? Será que agora que ela nasceu, eles não vão mais gostar de mim? E o vovô e a titia, onde estão? Será que estão lá com a minha irmãzinha também? Será que a vovó vai me deixar sozinho aqui pra ir ver a minha irmãzinha também? Será que todos agora vão me abandonar? Será que minha irmãzinha veio pra tirar o meu lugar? Começo a então chorar. A vovó fica preocupada, porque acha que estou sentindo alguma dor. Mas ela não sabe o que está se passando comigo. Levanto do chão do banheiro e começo a correr pela casa, chorando, cheio de espuma. A vovó parece desesperada. Mas estou muito nervoso. Não estou chorando de dor, e sim de raiva. Corro então até a pia da cozinha. Abro as portas e começo a fechá-las com força. A vovó fica desesperada, não sabe o que deu em mim. Da cozinha eu sigo para o quarto, onde está a cama da vovó, coberta por uma colcha vermelha aveludada. Mesmo cheio de espuma, eu pulo sobre a colcha e começo a chorar e a bater os braços e as pernas na cama. E choro, choro muito! Acho que nunca senti tanto medo de ficar sozinho...
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário