domingo, 10 de fevereiro de 2008

Lembranças de um professor universitário - parte 1

Águas de Lindóia, 20 de maio de 2006. Estou na 29ª. Reunião da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) apresentando um pôster sobre o uso da espectrometria de massas para diferenciar dois eudesmanolídeos regioisoméricos. O número do meu pôster é PN-101. À minha volta encontram-se várias pessoas, mas no momento nenhuma delas está interessada nos meus resultados. Mas eu não me chateio. Afinal, esta é a minha sexta participação em congressos e sei que, na maioria das vezes, ninguém se interessa mesmo. Já estou acostumado. Penso, então, no quanto eu sofri na primeira vez que apresentei um pôster. Foi em Poços de Caldas, em 2000. Eu tinha resultados muito simples, mais ou menos como os que estou apresentando agora. Eu havia estudado muito para apresentar os resultados que eu tinha obtido e estava ansioso para que alguém me formulasse algumas perguntas sobre ele. Mas os minutos iam passando e ninguém aparecia... O mais dolorido era ver as pessoas passando e olhando o pôster de cima a baixo, com cara de desprezo (como sempre fazem!). Era como se o que eu tivesse feito não tivesse nenhum valor! Eu havia ficado tão triste e tão magoado que minha vontade era sair correndo para o apartamento do hotel onde eu estava hospedado e chorar. Eis que surgiu uma jovem. Recordo-me que estava tão distante que não vi de onde ela veio nem a que instituição ela pertencia. Recordo-me apenas que ela fez-me duas perguntas muito simples, às quais respondi com o maior prazer. Após esclarecer suas dúvidas, senti-me profundamente e divinamente aliviado. Agradeci-lhe e, virando o rosto para a direção oposta à que ela estava, olhei para um ponto perdido do chão, com um sorriso no rosto. Quando me virei para cumprimentar a moça e agradecer-lhe novamente pelo enorme bem que ela acabara de me fazer, notei que ela tinha desaparecido! Aquela jovem havia simplesmente evaporado! Eu não podia acreditar no que havia acontecido. Foi quando um sorriso brotou em meu rosto e eu finalmente enxerguei que era Deus quem havia me enviado um anjo, na forma daquela jovem, para confortar-me... Ao me lembrar disso, percebo que estou sorrindo... Ao voltar à realidade, vejo que há quatro jovens estáticos, de frente para mim, olhando para um pôster. Curioso, eu acompanho o olhar deles para descobrir para onde estão olhando. Qual seria o motivo de tanto interesse? Caramba, eles estão olhando para o meu pôster! Eis que aquele sorriso de seis anos atrás reaparece em meu rosto. Desta vez, os anjos que Deus me enviou vieram aos pares. Será que alguém vai acreditar quando eu contar isso?

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