
Carlos Henrique Ceribelli. É este o nome deste rapaz aí da foto acima. Nós nos conhecemos em 1988, quando estudamos juntos na 6ª. Série, na escola aqui perto de casa (E. E. P. G. “Manoel Gouveia de Lima”). Naquela época eu já era o aluno mais quieto da turma e também um dos que obtinham as maiores notas nas provas. Mas eu era muito tímido. O Carlos, a quem eu me acostumei a chamar de “Gordo” (olha o porte físico da criança...), era uma das pessoas com quem eu mais me identificava. Éramos em três amigos: o Gordo, o Rodrigo (a quem chamávamos de “Tião”) e eu (já com o consolidado apelido de “Tonhão”, que surgira em 1986). Nós tínhamos muito em comum: quietos, tímidos e muito simples, mas também éramos completamente diferentes. O Gordo era de uma família muito humilde e, apesar do porte físico avantajado, sempre gostou de jogar futebol. Talvez isso tenha me deixado mais próximo dele que do Tião. Guardo na lembrança os momentos inesquecíveis de quando fomos jogar no estádio Ceribelli, onde o Garrincha (sim, o “Anjo das pernas tortas”!) jogou uma de suas últimas partidas antes de deixar órfão nosso futebol. Eu nunca havia jogado em um campo tão grande! Em uma outra ocasião, o Gordo convidou-me para jogar em uma fazenda. Bem, quaisquer palavras que eu usar para descrever aquela experiência serão completamente ineficazes para expressar quão inesquecível ela foi. Muitos jogavam descalço e, mesmo assim, se arriscavam a dar as famosas divididas com aqueles que calçavam chuteiras. E pasmem: muitas vezes ganhavam! O goleiro que jogou para o nosso time era um senhor que beirava os 50 anos. Acreditem ou não (não é história de pescador!!!), ele jogou totalmente embriagado e, ainda assim, “fechou o gol” (como costumam dizer na linguagem futebolística). O vovô Mila, que assistiu a toda aquela cena, ria o tempo todo... Em 1990, após dois anos estudando juntos, o Gordo começou a trabalhar e precisou estudar no período noturno. Ele e o Tião, que também começou a trabalhar. Eu fiquei sozinho, estudando no período matutino. Mas nos anos que se seguiriam eu não me separaria do Gordo. Muito pelo contrário; nossa amizade se tornaria mais forte. Mesmo não estudando mais juntos, eu ia à casa dele para jogarmos Maia. Ele, o pai dele, o irmão dele e eu. Também jogávamos truco nas noites de sábado. Quando comecei a gostar de música (isso, claro, depois que a mamãe comprou um rádio relógio), eu adquiri duas fitas da Madonna (os álbuns “True Blue” e “Like a Prayer”, se não me engano). Eu ia à sua casa para ouvir estas fitas no rádio dele. A gente ficava até altas horas (para quem não é daquela época, saibam que 22 h era praticamente madrugada...) conversando e ouvindo as músicas na varanda. Em outras palavras, o Gordo foi amigo constante durante os anos mais dourados da minha juventude. Quanto ao Tião, eu nunca mais o veria até o ano de 1995. A partir de então eu voltaria a ter com ele longas conversas até 1998, durante o percurso de ônibus até a universidade, onde ele cursava Desenho Industrial. O Gordo era assunto constante em nossos diálogos. A gente desejava muito que ele estivesse ali conosco. Mas o Gordo não gostava de estudar e abandonou a escola após terminar o ensino fundamental. Em 1994, quando seu pai teve um derrame cerebral, o Gordo teve que assumir o comando de sua casa. Para sustentar a família, ele passou a trabalhar de madrugada dirigindo o caminhão canavieiro que era de seu pai, enquanto o mesmo se recuperava das seqüelas. A partir de então a gente passou a se ver com menos freqüência. Mesmo assim, eu jamais me esqueci do Gordo. De vez em quando eu ia à sua casa e ele, sempre que podia, vinha visitar-me. O Tião, por outro lado, nunca veio à minha casa. Nem na juventude, nem na época de graduação, nem nos anos que se seguiriam. Lembro-me dele no portão aqui de casa uma ou duas vezes, mas bem sei que ele o fez por eu tanto ter insistido. O tempo passou (é, ele sempre passa...). O Tião se casou e nunca mais o vi. Nem telefonema, nem carta, nem e-mail, nem nada. Às vezes pergunto dele para o “Renatim”, sobrinho dele, com quem jogo futebol aos sábados à tarde. Ironia do destino: o Renatim sempre se lembra de mim (eu fui professor dele ano passado) e passa aqui em casa para irmos jogar futebol. Em outras palavras, ele faz o que o tio dele nunca fez. O Gordo não tem ensino médio, não tem nível superior nem tampouco qualquer diploma. O Gordo não tem dinheiro, não convive comigo diariamente e, portanto, eu não faço mais parte da vida cotidiana dele. Ainda assim, o Gordo é o único que vem visitar-me aqui em casa. É o único que tem se lembrado de mim como amigo nos últimos 18 anos. Em nossa vida, é preciso saber diferenciar os amigos de verdade, como o Gordo, dos colegas que passam por nossas vidas, como o Tião passou pela minha. Este post é uma homenagem simples, porém muito sincera, a este meu grande amigo, o Gordo. É também uma forma de mostrar a todos aqueles que lerem esta mensagem que a amizade verdadeira não depende de dinheiro, nem de diploma, nem tampouco da convivência cotidiana. Depende apenas do respeito e da consideração entre duas pessoas. E o mais importante: a amizade não se apaga com o tempo.
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